quinta-feira, 26 de novembro de 2020

10 curtas-metragens para educar as crianças e adolescentes sobre VALORES

 

Os curtas-metragens de animação para o público infantojuvenil vão além da função de entretenimento. Eles demonstram que é possível contar histórias sobre o mundo real, tratar de temas complexos e relevantes através de uma abordagem lúdica e inusitada.

Educar integralmente significa a desenvolver atitude crítica e valores morais, para que as crianças possam identificar a diferença entre certo e errado e, então, construir uma personalidade saudável.

O Monge e o Cão

O curta é um grande exemplo de como sempre podemos mudar nossas atitudes para viver melhor. Intitulado “The Wrong Monk”, criado por Tom Long como um projeto final de sua especialização em animação 3D na Southampton Solent University.

Ele conta a história de um monge eremita que vive só, mas que um dia é surpreendido por uma visita inesperada, enquanto fazia seus exercícios diários. A história se desenrola a partir daí e nos traz uma poderosa mensagem sobre como nossas vidas mudam quando escolhemos agir corretamente e aproveitarmos o tempo de nossas vidas sendo realmente felizes.

Título original: The Wrong Monk
Direção e roteiro: Tom Long
Gênero: Animação / Aventura / Família
Lançamento: 2009
Duração: 3:20 minutos

Historias da unha do dedão do pé do fim do mundo

É com delicadeza e criatividade que Evandro Salles e Márcia Roth dirigem a animação Histórias da unha do dedão do pé do fim do mundo, baseada em poemas de Manoel de Barros.
Num diálogo lúdico entre textos de Barros e desenhos de Salles, a animação vai construindo imagens e sentidos inusitados e poéticos por meio da brincadeira com coisas e palavras.

Título original: Historias da unha do dedão do pé do fim do mundo
Direção e roteiro: Evandro Salles e Márcia Roth
Gênero: Animação / Família
Lançamento: 2007
Duração: 8 minutos

Calango!

O curta metragem Calango! foi uma produção dirigida por Alê Camargo, e realizada com a participação de jovens. A história retrata a perseguição de um pequeno calango faminto, atrás de um grilo… mas as coisas não serão tão simples quanto ele imagina. Ação, humor e uma perseguição desenfreada numa animação 3D bem brasileira. A aventura acontece no rítimo do choro “Brasileirinho”, de Waldir Azevedo.

Título original: Calango!
Direção: Alê Camargo
Roteiro: Alê Camargo, Alessandra Mota, Alexandre Souza, Anderson Lopes e Dalmo Pereira
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2007
Duração: 7:41 minutos

Guilhermina & candelario: a historia da feiticeira

Avó Francisca conta história repleta de emoção ao redor da fogueira. Guilhermina e Candelário compartilham com seus avós e amigos uma divertida noite de fogueira. A coruja Pepita também participa da confraternização.

A voz da avó Francisca levará a todos a uma viagem imaginária aos confins do bosque, através de um relato cheio de emoção, música e suspense, em que as dificuldades de Candelário e Ismael despertarão na comunidade um profundo sentimento de solidariedade.

Título original: Guilhermina & candelario: a historia da feiticeira
Direção e roteiro: Maritza Rincón González
Gênero: Animação / Aventura / Família
Lançamento: 2015
Duração: 12 minutos
*Ver outros episódios da série no canal oficial. AQUI!

Caminho dos Gigantes | Way of Giants

“Caminho dos Gigantes” é um curta-metragem de Alois Di Leo e Sinlogo Animation. O filme é uma busca poética pela razão e propósito da vida, que conta a história de Oquirá, uma menina indígena de seis anos, que enfrenta o ciclo da vida e o conceito de destino. O filme explora as forças da natureza e a nossa conexão com a terra e os seus elementos.

A música tem um papel importante na história. O mestre de música andina, Tito La Rosa, foi trazido do Peru até São Paulo para compor e tocar a música, utilizando instrumentos musicais andinos e incas – muitos dos quais ele e o seu filho confeccionaram manualmente, seguindo tradições andinas.

Título original: “Way of Giants“ | “Caminho dos Gigantes”
Direção e roteiro: Alois Di Leo
Animação: Henrique Lobato e Tiago Rovida
Gênero: Animação / Aventura / Família
Lançamento: 2016
Duração: 11:52 minutos

Vida fácil

Vida Fácil é uma produção da Ringling College of Art and Design, uma faculdade dos Estados Unidos especializada em arte e design. Dirigida por Jiaqi Xiong, é um convite a reflexão sobre valores como responsabilidade e comprometimento com nossas obrigações.

A trama conta a história de uma menina que preferia brincar ao invés de fazer as lições de casa. Nesse mundo de fantasia, sua boneca ganha vida e começa a fazer as liçōes da escola em seu lugar. Porém, depois de um tempo os papéis se invertem.

O curta é indicado para trabalhar com os pequenos sobre responsabilidade e mentiras. Ele também traz observações sobre a importância do esforço e das conquistas por mérito próprio.

Título original: The Easy Life
Direção e roteiro: Jiaqi Xiong
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2015
Duração: 2:21 minutos

Destino

Com direção de Fabien Weibel, o curta Destiny apresenta uma reflexão metafórica sobre a correria do mundo moderno, em que deixamos de ‘nos enxergar’ enquanto o autoconhecimento dá lugar a movimento robôticos e propósitos pouco aprofundados. A importância da pausa, mais uma vez, aparece como ponto nítido.

Título original: Destiny
Direção e roteiro: Fabien Weibel
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2012
Duração: 5:25 minutos

Frankenstein Punk

O curta metragem de Cao Hamburger e Eliane Fonseca (1986) é uma ótima oportunidade para discutir gêneros do cinema, preconceitos e conflitos culturais. Frank – o protagonista da história – é uma criatura diferente, nascida ao som da música “Singing in the rain” (Arthur Freed e Nacio Herb Brown). Certo dia, ele decide partir em busca da sua felicidade. Os estudantes podem ainda conhecer a técnica de stop motion e seu uso em filmes de animação. “Frankenstein Punk” tem 12 minutos e foi o grande premiado do Festival de Gramado de 1986.

Título original: Frankenstein Punk
Direção e roteiro: Cao Hamburguer e Eliana Fonseca
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 1986
Duração: 12 minutos

Zimbú

Uma bola de futebol aparece em uma tribo africana, isolada do mundo. Ela chega até os pés de um guerreiro africano, que descobre a magia do futebol.

Título original: Zimbú
Direção e roteiro: Marcos Strassburger Souza
Gênero: Animação / Aventura / Família
Lançamento: 2012
Duração: 3 minutos

Alcançar

O curta animado de Ahmed Elmatarawi é uma mistura entre entretenimento e observações sobre temas como solidariedade e compartilhamento.

O roteiro traz o personagem perdido no imenso deserto a procura de água. Ele está quase sem forças quando encontra o tesouro que tanto precisa. Além disso, o curta traz um final surpreendente.

A trama dá margem para uma conversa sobre egoísmo e pensamento coletivo.

Título original: Reach (Alcanzar)
Direção e roteiro: Ahmed Elmatarwi
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2016
Duração: 3:52 minutos

Felicidade

O curta Happiness (2017), criado pelo ilustrador e especialista em animação Steve Cutts, provoca reflexão sobre busca da felicidade constante em um contexto social e econômico que favorece justamente o oposto. As metáforas vão ainda mais a fundo e criticam, por exemplo, a falta de respeito ao próximo – que, sem que se perceba literalmente no cotidiano, gera a falta de amor-próprio.

Título original: Hapiness
Direção e roteiro: Steve Cutts
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2017
Duração: 4:40 minutos

Parcialmente nublado

Uma pequena joia das animações. Parcialmente Nublado encanta a todo o instante. Provavelmente um dos melhores curta-metragens que a Pixar já produziu, “Partly Cloud” tem como principal mérito fazer uso de cores alegres e belas sob uma história que já é, por si só, linda.

As cegonhas são encarregadas de levar os bebês para suas respectivas famílias, mas onde elas buscam os recém nascidos? A resposta está na estratosfera, onde as nuvens trabalham esculpindo crianças. Gus (voz de Tony Fucile), é uma nuvem cinzenta e insegura, mestre em criar bebês mal criados. Além disso, ele gera crocodilos, porcos-espinhos, carneiros e muito mais. Suas criações são obras de arte, entregues pelo seu fiel parceiro Peck (voz de Tony Fucile), uma cegonha. Mas as criações de Gus estão ficando cada vez mais indisciplinadas. Como Peck irá conseguir lidar com seu trabalho?

Título original: Partly Cloudy
Direção e roteiro: Peter Sohn
Gênero: Animação / Drama / Família
Lançamento: 2009
Duração: 5:32 minutos

Extra

Walt Disney & Salvador Dali – Destino

“Escondido nos Arquivos dos Estúdios Disney, estava um projeto de um curta com a arte de Walter Elias Disney com Salvador Dalí.”

A música “Destino” do compositor Armando Dominguez serviu como base para a criação do curta-metragem animado que uniu duas figuras emblemáticas dos anos 40: o pintor surrealista Salvador Dalí e o animador americano Walt Disney.

Convidado por Disney, Dalí iniciou o projeto que durou nove meses com o animador John Hench. A produção do desenho animado começou em 1945, mas só foi finalizada 58 anos depois, em 2003, devido a uma crise sofrida pelos Estúdios Disney e desencadeada pela Segunda Guerra Mundial. O projeto foi interrompido com apenas 17 segundo finalizados e ficou a cargo de Roy Disney, sobrinho de Walt Disney, a finalização do curta em 2003.

A canção-tema interpretada por Dora Luz, os rascunhos deixados no início do projeto e 15 famosas telas de Dalí foram utilizadas para a finalização da animação. A obra é de tamanha intensidade que podemos ver os traços orgânicos de Dalí se unirem às técnicas de animação de Disney. O resultado é um belíssimo curta-metragem de animação mostrando a história de amor entre Chronos e uma mortal

Fonte: © obvious

“O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.”
– Mario Quintana, in: Caderno H, (1945-1973), Porto Alegre: Editora Globo, 1973.

Estas são nossas dicas super valiosas de curta-metragens animação que vale conferir!

Referências biobibliográficas sobre o uso de curtas-metragens em sala de aula:

VENTURINI, Aline Dal Bem. Curtas-metragens como ferramente tecnológica na educação inclusiva. Revista Educação, Arte e Inclusão, vol. 14, nº 2, abril/junho, 2019.

‘OS FANTÁSTICOS LIVROS VOADORES DO SR. MORRIS LESSMORE’, vencedor do Oscar de melhor curta animação

 

'Os fantásticos livros voadores do Sr. Morris Lessmore', vencedor do Oscar de melhor curta animação

Uma vida sem leitura é sem graça, sem cor. Sem leitores, um livro não tem vida, serventia. Livros são eternos, e a contribuição cultural de seus autores é capaz de eternizá-los no universo literário. E é levando ao pé da letra ideias como essas que o vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2012, The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (Os Fantásticos Livros Voadores do Sr. Morris Lessmore, em tradução livre), constrói sua homenagem à literatura.

Dirigido por Brandon Oldenburg e William Joyce e escrito por este último, o curta tem início com uma tempestade que arrasta o Sr. Morris Lessmore e sua casa para uma outra dimensão, devasta sua biblioteca e varre as páginas de sua mais recente obra. Frustrado, Lessmore encontra uma casa habitada por livros voadores e redescobre a beleza da leitura.

Mais que isso, Lessmore se torna um mentor para novos leitores, recolorindo um mundo monocromático com o encantamento despertado pela leitura, além de guardião e cuidador da biblioteca, chegando até mesmo a executar uma delicada intervenção cirúrgica para reabilitar um livro caindo aos pedaços. Para completar, o curta (com personagens animados digitalmente em cenários reais, construídos em miniatura) também faz sua homenagem à própria técnica de animação, através da expressividade alcançada através do folheamento do melhor amigo de Morris, um livro sobre Humpty Dumpty. Trata-se da Literatura em ótima sintonia com o Cinema.

“Não penso em morte do livro, mas em evolução. Ao passo que o livro ilustrado se adapta às novas tecnologias, sinto que é importante reforçar a ideia que, apenas dos lampejos que os aplicativos possam trazer, sempre haverá necessidade e espaço para os prazeres únicos da página impressa.”
– William Joyce, em entrevista a Folha Ilustrada. 8.1.2013

Assista aqui:
The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, EUA, 2011 | Escrito por William Joyce | Dirigido por William Joyce e Brandon Oldenburg.

Título original: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Direção: William Joyce / Brandon Oldenburg
Roteiro: William Joyce
Gênero: Animação / Aventura / Drama
Origem: Estados Unidos
Ano de produção: 2011
Duração: 15 Minutos
Sinopse: Vencedor do Oscar de melhor curta animado de 2012, The Fantastic Flying Books é uma animação adorável, que mostra o poder dos livros sobre nós, e como podem nos mostrar novos mundos, caminhos e direções além daquelas a que estamos acostumados ou treinados a seguir. A história cerca a destruição provocada pelo furacão Katrina, o gigante que arrasou áreas inteiras do sul da Flórida, Nova Orleans, Alabama, Mississipi e Louisiana em agosto de 2005. Mas os diretores William Joyce e Brandon Oldenburg não deram voz à tragédia, antes, procuraram lançar sobre ela a luz encontrada na literatura. Com referências ao furacão de O Mágico de Oz, o Mr. Morris Lessmore do título é arrastado para um mundo onde os livros são vivos, e cada um deles oferece uma viagem à parte para o leitor navegar em suas páginas. A fantasia encontra a paixão pela leitura. Mr. Morris Lessmore, uma representação de Buster Keaton, passa a viver nesse mundo dos livros vivos, e a destruição ao seu redor ganha cor, passa a ser um viés não tão essencial quanto a viagem maravilhosa que a literatura lhe proporciona, inclusive através do prazer de escrever.

O livro:
JOYCE, Willian. ‘Os Fantásticos Livros Voadores de Modesto Máximo’. [tradução Elvira Vigna]. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2012.
A entrevista de William Joyce:

:: William Joyce de “A Origem dos Guardiões” fala sobre seu amor ao universo do livro (entrevista a Cassiano Elek Machado/FSP, em 8.1.2013). Disponível no link. (acessado em 16.8.2017).

Fontes: Cinema sem erros | Folha ilustrada | Editora Rocco

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O que é e para que serve o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA?

O Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro. A data reúne diferentes ações de combate ao racismo e reacende o debate sobre a chegada dos negros ao país, a escravidão no Brasil e o racismo estrutural da sociedade. 


Sendo uma data tão significativa, é importante saber o que é e para que serve o Dia da Consciência Negra. Pensando nisso,  preparamos um resumo sobre a história e importância do 20 de novembro. 

Como surgiu o Dia da Consciência Negra? 


O Dia da Consciência Negra foi instituído durante o governo Lula, através da Lei nº 10.639. O documento inclui o tema “História e Cultura Afro-Brasileira” como componente curricular obrigatório das escolas brasileiras. Além disso, instituiu o 20 de novembro como o ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Apesar da legislação reconhecer a data em 2003, a sua existência é bem anterior. 

Em uma pesquisa sobre a consciência negra, é importante saber que em 1978 ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU) se reuniram em Salvador e acordaram que o dia da morte de Zumbi, 20 de novembro, seria celebrado como o Dia da Consciência Negra. A ideia era usar a data para relembrar a luta dos negros escravizados que se rebelaram contra o sistema escravista da época.

Já em 2011, no governo Dilma Rousseff, por meio da Lei nº 12.519, a data foi oficializada como “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”. A escolha da data é uma referência a morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes quilombolas do país.

Quem foi Zumbi dos Palmares?


Nascido em 1665, Zumbi dos Palmares comandou o Quilombo dos Palmares por quase 15 anos e liderou a resistência de milhares negros contra a escravidão. Ele chegou em Palmares com 15 anos de idade e assumiu o comando do quilombo após a morte do antigo líder, Ganga Zumba. Durante a sua liderança, Palmares enfrentou diversas batalhas para defender o território e a liberdade dos negros no quilombo. 

Em 1694 o Quilombo dos Palmares foi destruído pelo governo durante uma expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Apesar de ter resistido, Zumbi foi capturado e morto um ano depois, em 20 de novembro de 1695. Ele foi assassinado pelo capitão Furtado de Mendonça, em cumprimento das ordens de Domingos Jorge. Zumbi foi decapitado e a sua cabeça foi exposta em uma praça de Recife.

O que é o Dia da Consciência Negra?



Importância do Dia da Consciência Negra


Além de ser uma homenagem e reconhecimento da luta de Zumbi dos Palmares e seus companheiros no quilombo, o Dia da Consciência Negra é fundamental para evidenciar as desigualdades e violências contra a população negra ainda existentes em nossa sociedade. Para além de um momento festivo, a data proporciona a reflexão sobre o racismo e as suas implicações na atualidade.

O 20 de novembro também é um elemento marcante para a educação escolar. É importante que as escolas trabalhem o Dia da Consciência Negra na educação infantil com atividades pedagógicas desenvolvidas ao longo do ano letivo.

Dia da Consciência Negra é feriado? 


Dia da Consciência Negra é feriado em alguns estados e cidades brasileiras. A data é celebrada em todo o país, mas é feriado nos estados de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e Rio Grande do Sul. O dia 20 de novembro também é feriado em mais de mil cidades brasileiras.

15 escritoras e escritores negros que deveriam ser estudados nas escolas

“O modelo cívico brasileiro é herdado da escravidão, tanto o modelo cívico cultural como o modelo cívico político. A escravidão marcou o território, marcou os espíritos e marca ainda hoje as relações sociais deste país. Mas é também um modelo cívico subordinado à economia, uma das desgraças deste país”
– Milton Santos, em “As cidadanias mutiladas”. In______. O preconceito (vários autores). São Paulo. IMESP, 1996-1997, p. 135.

Uma pequena relação de autores negros conhecidos e ou pouco conhecidos do nosso imenso Brasil. É evidente que tem muito mais, são inúmeros que igualmente merecem nossa atenção e espaço. Os autores desta lista, são: Abdias Nascimento, Adão Ventura, Auta de Souza, Carlos Machado, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Cruz e Sousa, Elisa Lucinda, Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Milton Santos, Miriam Alves, Nina Rizzi, Solano Trindade e Paulo Colina

Abdias Nascimento – escritor

ABDIAS DO NASCIMENTO
Abdias Nascimento (artista plástico, escritor, teatrólogo, político e poeta) – Franca – SP, 14 de março de 1914 – Rio de Janeiro – RJ, 23 de maio de 2011 – nasceu em uma família negra e pobre da cidade de Franca, interior do Estado de São Paulo. A sua mãe se chamava Georgina, conhecida como dona Josina, e o pai se chamava José. Ambos eram católicos e tinham sete filhos. A avó materna de Abdias, dona Ismênia, havia sido escrava, e apesar do neto ter nascido no contexto pós-abolição, o racismo e as relações sociais que marcaram o Brasil na época dela ainda vigoravam com bastante força.
Da infância vivida em Franca, Abdias absorveu os saberes dos afrodescendentes mais velhos, que eram repassados através da oralidade, em rodas de conversa. Aos nove anos, o garoto já trabalhava entregando leite e carne nas casas dos moradores mais ricos da cidade e assim ajudava a família financeiramente. Com o pouco que conseguia guardar para si, comprou orgulhoso o seu primeiro par de sapatos.

Adão Ventura – poeta

ADÃO VENTURA
Adão Ventura Ferreira Reis, poeta e prosador conhecido por Adão Ventura, nasceu em 5 de julho de 1946 em Santo Antônio do Itambé, então distrito do Serro (MG), em 1946. Filho de Sebastiana de José Teodoro e de José Ferreira dos Reis, e neto de escravos, Adão Ventura viveu em péssimas condições, tendo mudado para Belo Horizonte, em busca de vida melhor, e conseguido se graduar em direito, pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Auta de Souza – poeta

AUTA DE SOUZA
Auta Henriqueta de Souza nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876, filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói de Sousa e Henrique Castriciano. Ficou órfã aos três anos, com a morte de sua mãe por tuberculose, e no ano seguinte perdeu também o pai, pela mesma doença. Sua mãe morreu aos 27 anos e seu pai aos 38 anos. Durante a infância, foi criada por sua avó materna, Silvina Maria da Conceição de Paula Rodrigues, conhecida como Dindinha, em uma chácara no Recife, onde foi alfabetizada por professores particulares. Sua avó, embora analfabeta, conseguiu proporcionar boa educação aos netos.

Carlos Machado – poeta

CARLOS MACHADO
Carlos Machado, nasceu em 1951, em Muritiba (BA). Jornalista, reside em São Paulo desde 1980. Cursou engenharia mecânica na UFBA e, em São Paulo, fez jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Edita na internet o boletim quinzenal poesia.net. Tem poemas publicados em revistas e jornais literários. Como jornalista especializado em informática, é também autor de livros técnicos publicados pela Editora Campus (RJ).

Carolina Maria de Jesus – escritora

CAROLINA MARIA DE JESUS
Carolina Maria de Jesus, moradora da antiga favela do Canindé, em São Paulo, é conhecida por relatos em seu diário, que registravam o cotidiano miserável de uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada. Foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, encarregado certa vez de escrever uma matéria sobre uma favela que vinha se expandindo próxima à beira do Rio Tietê, no bairro do Canindé; em meio a todo rebuliço da favela, Dantas conheceu Carolina e percebeu que ela tinha muito a dizer. Seu principal livro é Quarto de despejo (1960), no qual há relatos de seu diário. Também publicou Casa de Alvenaria (1961); Pedaços de fome (1963); Provérbios (1963); postumamente foram publicados Diário de Bitita (1982); Meu estranho diário (1996); entre outros.

Conceição Evaristo – escritora

CONCEIÇÃO EVARISTO
A escritora brasileira Conceição Evaristo foi criada em uma favela da zona sul de Belo Horizonte. Em sua vida teve de conciliar os estudos com a vida de empregada doméstica, formando-se somente aos 25 anos. No Rio de Janeiro, passou em um concurso público para o magistério e estudou Letras (UFRJ). É mestra em Literatura Brasileira (PUC-RJ) e doutora em Literatura Comparada (UFF). Atualmente, leciona na UFMG como professora visitante. Estreou na literatura em 1990, com obras publicadas na antologia Cadernos Negros. Suas obras abordam tanto a questão da discriminação racial quanto as questões de gênero e de classe. Publicou o romance Ponciá Vicêncio (2003), traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos em 2007; Poemas da recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011).

Cruz e Sousa – poeta

CRUZ E SOUSA
João da Cruz e Sousa, também conhecido como Dante Negro ou Cisne Negro, foi o único poeta de pura raça negra, não tinha nada de mestiço, segundo Antonio Candido (grande estudioso da literatura brasileira e sociólogo). Era filho de escravos alforriados, mas recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa – de quem adotou o nome de família, Sousa. Aprendeu línguas como francês, latim e grego. Além disso, aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Seus poemas simbolistas são marcados pela musicalidade, pelo individualismo, pelo espiritualismo e pela obsessão pela cor branca. Publicou os livros Broquéis (1893); Missal (1893) Tropos e Fantasias (1885), com Virgílio Várzea; postumamente foram publicados Últimos Sonetos (1905); Evocações (1898); Faróis (1900); Outras evocações (1961); O livro Derradeiro (1961) e Dispersos (1961).

Elisa Lucinda – foto: Acervo Lucinda

ELISA LUCINDA
Elisa Lucinda dos Campos Gomes é uma poeta brasileira, jornalista, cantora e atriz brasileira. É muito conhecida por suas atuações em novelas da Rede Globo, pelo prêmio que recebeu pelo filme A Última Estação (2012), de Marcio Curi, e pelos seus inúmeros espetáculos e recitais em empresas, teatros e escolas de todo o Brasil. Publicou inúmeros livros, dentre eles A Lua que menstrua (1992); O Semelhante (1995); Eu te amo e suas estreias (1999); A Fúria da Beleza (2006); A Poesia do encontro (2008), com Rubem Alves; Fernando Pessoa, o Cavaleiro de Nada (2014).
“A nossa única revolução é educacional. Essa é que vai mudar tudo”
– Elisa Lucinda

Machado de Assis – escritor

MACHADO DE ASSIS
Joaquim Maria Machado de Assis quase dispensa apresentações, pois é considerado o maior nome da literatura brasileira. Além de seus tão conhecidos romances, publicou contos, poemas, peças de teatro e foi pioneiro como cronista. Publicou em inúmeros jornais e foi o fundador da Academia Brasileira de Letras, juntamente com escritor José Veríssimo. Machado de Assis foi eleito presidente da instituição, ocupando este cargo até sua morte. Escreveu mais de 50 obras, mas está para sempre imortalizado por causa das obras Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro, (1899) e O Alienista (1882).

Maria Firmina dos Reis – escritora

MARIA FIRMINA DOS REIS
A escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luís – MA, rompeu barreiras no país e na literatura brasileira. Aos 22 anos, no Maranhão, foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária e, por isso, foi a primeira professora concursada do estado. Seu romance Úrsula (1859) foi o primeiro romance abolicionista brasileiro e, além disso, o primeiro escrito por uma mulher negra no Brasil. No auge da campanha abolicionista, publicou A Escrava (1887), o que reforçou a sua postura antiescravista. Publicou ainda o romance Gupeva(1861); poemas em Parnaso maranhense (1861) e Cantos à beira-mar (1871). Além disso, publicou poemas em alguns jornais e fez algumas composições musicais. Quando se aposentou, em 1880, fundou uma escola mista e gratuita.

Milton Santos – geografo e escritor

MILTON SANTOS
Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como a epistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros…

Miriam Alves – poeta

MIRIAM ALVES
Miriam Alves poeta, dramaturga e prosadora, nascida em São Paulo, em 1952. Publicou os livros de poemas ‘Momentos de busca’ (1983), ‘Estrelas nos dedos’ (1985), a peça ‘Terramara’ (1988), em coautoria com Arnaldo Xavier e Cuti, o livro de ensaios ‘Brasilafro autorrevelado’ (2010), a coletânea de contos ‘Mulher Mat(r)iz’ (2011) e o romance ‘Bará na trilha do vento’ (2015). Integrou o movimento Quilombhoje Literatura de 1980 a 1989, e foi escritora visitante na Universidade do Novo México, na Escola de Português de Middelbury College em 2010, nos Estados Unidos, e participou de debates sobre a literatura afrobrasileira e feminina nas Universidades do Texas, na Universidade do Tennessee e na Universidade de Illinois.

Nina Rizzi – poeta

NINA RIZZI
Nina Rizzi (Campinas SP, 1983), historiadora, tradutora e poeta, vive atualmente em Fortaleza CE (Brasil). Tem poemas, textos e traduções publicados em diversas revistas, jornais, suplementos e antologias. Autora de tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada (prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014)

Solano Trindade – foto: Acervo família Trindade

SOLANO TRINDADE
Francisco Solano Trindade (poeta, ativista político e artista múltiplo), nasceu em Recife, PE, em 24 de julho de 1908. Filho da quituteira Emerenciana e do sapateiro Manoel Abílio, viveu em um lar católico, apesar de seu pai incorporar entidades às escondidas.

“A minha poesia continuará com o estilo do nosso populário, buscando no negro o ritmo, no povo em geral as reivindicações sociais e políticas e nas mulheres, em particular, o amor. Deixem-me amar a tudo e a todos” – Solano Trindade

Paulo Colina – poeta

PAULO COLINA
Paulo Colina poeta, prosador e ensaísta, nascido Paulo Eduardo de Oliveira em Colina, estado de São Paulo, a 9 de março de 1950. Membro da geração fundadora dos Cadernos Negros e do coletivo Quilombhoje, estreou com o volume de contos Fogo cruzado (1980), ao qual se seguiram as coletâneas de poemas Plano de voo (1984), A noite não pede licença (1987) e Todo o fogo da luta (1989).

Salgado Maranhão - foto Ricardo Prado

SALGADO MARANHÃO
Salgado Maranhão (José Salgado Santos) – poeta, compositor e jornalista. Nasceu no povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias – Maranhão, em 13 de novembro de 1953, filho de Moacyr dos Santos Costa e Raimunda Salgado dos Santos. Ainda adolescente, mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina. Escreveu artigos para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972. Estudou Comunicação na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu. Inicialmente, teve seu nome vinculado em publicações como “Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis” (Ed. Civilização Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros.

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

“Lágrima de preta” de António Gedeão
Imagem: “My Cup Runneth Over” de Annie Lee (1935-2014)